06 outubro 2011

O Leitor

A Igreja possui o ministério instituído do leitor. E a este deve ser dada a devida importância. Os que foram instituídos como leitores, se os houver, devem exercer sua função própria, pelo menos nos domingos e festas, durante a missa principal. Além disso, pode-se confiar a eles o encargo de ajudar na organização da Liturgia da Palavra, e de cuidar, se for necessário, da preparação de outros fiéis que, por designação temporânea, devem fazer as Leituras na celebração da missa. 


Esta instituição é conferida somente aos homens. As mulheres estão ausentes deste ministério instituído. Ione Buyst em um de seus livros diz que talvez seja por isso que, na pastoral, esta instituição é praticamente inexistente. Assim, nas nossas igrejas ficamos com os leitores e leitoras reconhecidos(as), que assumem o ministério sem titulo oficial especial. Atuam por conta de seu sacerdócio batismal. 

É louvável que nossas igrejas possuem os leitores reconhecidos. E o Elenco das Leituras da Missa nos diz que a assembleia litúrgica precisa ter leitores, ainda que não tenham sido instituídos para esta função. Por isso, é preciso procurar que haja alguns leigos, os mais aptos, que estejam preparados para desempenhar este ministério. 

O leitor não possui o monopólio da Palavra. É toda a comunidade que possui o tesouro e que o partilha. Conforme a antiga tradição da liturgia sinagogal, a Leitura da Palavra era assegurada por três leitores nas celebrações ordinárias, e até por sete leitores nos dias de sábado e de festas. 

O ministério do leitor não é um serviço qualquer, é um serviço da Palavra de Deus em benefício da comunidade celebrante. Tomando aqueles que estiverem aptos para a função, se for um homem, que se tome esse homem; se for uma mulher, que se tome essa mulher; e se for um menino ou uma menina, que se tome esse menino ou essa menina. 

O leitor desempenha um verdadeiro serviço litúrgico. Ele não está para ajudar o padre, como muitos continuam pensando. Assumem um ministério próprio. Atuam a partir de seu sacerdócio de batizados. Não trabalham por conta própria, mas como representantes de Cristo, animados por seu Espírito. Estão aí não para exercer um poder sobre a comunidade ou para aparecer. Ao contrário, trata-se de um serviço comunitário, eclesial. São chamados a prestar um serviço aos irmãos e irmãs reunidos em assembleia. 

O leitor anuncia a Palavra em nome de quem um dia a pronunciou suscitando vida nova. Deve tornar presente Jesus Cristo, sendo profeta e pregador deste anúncio da Boa Nova aos irmãos e irmãs que escutam sua Palavra e louvam o Pai. A proclamação da Palavra na assembleia litúrgica é sempre uma realidade densa da presença atual do Ressuscitado. É Cristo vivo que, pela voz do leitor, convida os ouvintes a viver o memorial de sua vida, morte e ressurreição, com vistas à conversão e à salvação. 

A questão dos leitores, no pós-Vaticano II, de início foi discriminatória. A primeira edição do novo missal, em 1969, só permitia que as mulheres lessem, com a autorização das conferências episcopais, se não houvesse um homem apto a exercer a função de leitor, mesmo o leitor reconhecido. Parece que se preferia antes um mau leitor do que uma mulher lendo com clareza. 

Para a proclamação das leituras é inconcebível a falta de entusiasmo, de autoconsciência, de uma convicção que proceda do coração. O leitor não pode ter a postura de um leitor de jornal. Se ele não transmite vibração nem convicção à assembleia, dá mostras de um desempenho deficiente de seu ministério. Por isso, seu rosto, sua voz, sua postura e tudo nele deve expressar essa feliz novidade. Quando a palavra é proclamada com os sentimentos que correspondem à sua mensagem (alegria, esperança, tristeza, ameaça), abre-se o caminho para a compreensão e a vivência do mistério anunciado. 

O leitor proclama, anuncia a Palavra de Deus à assembleia. Transforma a palavra escrita em palavra viva acolhida pelo ouvido e pelo coração da comunidade. Por isso, mais do que leitor, essa pessoa deveria denominar-se pregador da Palavra de Deus à comunidade. 

Assim, mesmo as leituras devem ter entonação de proclamação. Proclamar é diferente de ler. Fazer a Leitura significa ir lá na frente, ler o que está escrito, para informação minha e da comunidade. Ou, no pior dos casos, é apenas uma formalidade: celebração supõe Leitura, alguém deve fazê-la; pouco importa se os presentes entenderam o que foi dito ou se foram atingidos pelo que ouviram. Proclamar a Palavra é um gesto sacramental. Coloco-me a serviço de Jesus Cristo que, através da minha Leitura, da minha voz, da minha comunicação... quer falar pessoalmente com seu povo reunido. 

O leitor raramente executa sua função com perfeição. Para fazer uma perfeita execução, o leitor deve se preparar. Pois, trata-se de proclamar a Palavra de Deus à comunidade celebrante de maneira plenamente inteligível, com clareza e sabedoria. A voz do leitor é a clara voz do Cristo que devemos escutar. A Sacrosanctum Concilium diz que é Cristo que fala enquanto se leem na igreja as Escrituras Sagradas. 

A preparação do leitor deve ser espiritual e técnica. A preparação espiritual supõe pelo menos dupla instrução: bíblica e litúrgica. A instrução bíblica deve encaminhar-se no sentido de que os leitores possam compreender as Leituras em seu contexto próprio e entender à luz da fé o núcleo central da mensagem revelada. A instrução litúrgica deve facilitar aos leitores certa percepção do sentido e da estrutura da Liturgia da Palavra e a relação entre a Liturgia da Palavra e a liturgia eucarística. A preparação técnica deve capacitar os leitores para que se tornem sempre mais aptos na arte de ler diante do povo, seja de viva voz, seja com a ajuda de instrumentos modernos para a amplificação vocal. 

O leitor deve ler e meditar a Leitura em casa, durante a semana, para poder ser um bom anunciador da Palavra. Ele deverá ‘desaparecer’ diante do Cristo que pega emprestada sua voz. Ele, enquanto proclama a Palavra, presta atenção, com toda a comunidade, para tentar perceber o que o Espírito está querendo dizer à Igreja naquele dia. 

Então, é necessário que o leitor entenda aquilo que está lendo. Devendo saber sobre o texto em si, seu contexto, a circunstância em que foi escrito, a quem foi dirigido, a quem está falando e qual seu objetivo. Também saber o sentido do texto no conjunto da revelação de Jesus Cristo, para que o texto possa se tornar uma Palavra de salvação para nós. O leitor que não entende o que lê, transmitirá dúvida. Somente o leitor que entende o que lê, fará um verdadeiro anúncio da Palavra. Na preparação pessoal, a lectio divina pode ser um bom método de preparação para a Leitura. O leitor não deve fazer sucessivamente a primeira leitura, depois o, com sua própria voz, renova-se a atenção da comunidade. Salienta-se também a especificidade de cada leitura. Também o leitor não deve dizer ‘Primeira leitura’ ou ‘Segunda leitura’, muito menos ler com pressa. E não deve falar ‘Palavras do Senhor’ ou ‘Palavras da Salvação’, pois Cristo é a única Palavra do Pai, é a ‘Palavra do Senhor’, a ‘Palavra da Salvação’.



Ewerton Martins Gerent


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